"Pequena história destinada a explicar como é precária a estabilidade dentro da qual acreditamos existir, ou seja, que as leis poderiam ceder terreno às exceções, acasos ou improbabilidades, e aí é que eu quero ver" (Julio Cortázar)


A Produtora Signos Possíveis começou neste blog de escrita. Aqui você encontrará uma seleção de textos escritos e escolhidos por Madeleine Alves. Para saber mais sobre o trabalho da produtora, procure a gente nas redes sociais!


segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Mas, porque um documentário do Elver?


Madeleine Alves

Segundo o dicionário, “Resiliência” é a habilidade que uma pessoa desenvolve para resistir, lidar e reagir de modo positivo a situações adversas. Ainda que por vezes não conheça essa palavra, o destino do artista é lapidá-la com seu ofício e sua vida – sem afetação. No fundo, com alma de criança que faz arte - um “arteiro”(!) – experimenta no lúdico interior de seu ofício, exercido com muito estudo, técnica e por muitas vezes abnegação voluntária, a única conexão que o faz resistir, lidar e reagir a um mundo que nem sempre o reconhece e laureia.

Elver Savietto é um artista-arteiro que se classifica como escultor e ceramista, dado seus mais de 30 anos dedicados a essas atividades. Mas eu nem me dou ao trabalho de classificá-lo, porque ele faz de tudo: desenho, mosaico, colagens, graffitti... Enfim, tudo o que lhe der na telha. Quando experimenta uma nova técnica, 100-OR!: são 200, 300 exemplares de experimentos, até apreender e... partir pra uma nova experimentação! Nascido em uma família de artistas, não caminhou sempre pelos caminhos estéticos dos que o precederam. Em suas melhores memórias, estão os 13 anos de presença na Cadeia Velha de Santos a partir do fim dos anos 1980, ao lado de Luiz Hamen, Sérgio Guerreiro e Maurice Lègeard (com quem desenvolveu uma amizade única), para citar alguns nomes conhecidos da cultura de nossa região. Há mais de 25 anos, Elver leciona da Universidade Santa Cecília - UNISANTA, tendo passado por ele alunos regulares, graduandos do antigo curso de Artes Visuais, especializandos em cerâmica; mas muito antes, Elver já abria sua cela na Cadeia para os visitantes que vissem nas nuances da pedra-sabão o mesmo encanto com que ele as enxerga, para os clientes que consumiam vertiginosamente sua arte, para os estudantes que quisessem aprender a magia do solo contida na argila prestes a ser queimada e virar cerâmica. Febrilmente, já se esqueceu inúmeras vezes  de comer enquanto trabalhava; já deu tudo o que podia, não podia, devia, não devia para comprar materiais artísticos; e já dividiu tudo generosamente com aqueles que, de sentidos atentos, queriam saber mais do grande tesão de sua vida.

O que leva alguém a passar tanto tempo assim? Começando, recomeçando, (re)recomeçando e (re)recomeçando mais uma vez, todos os dias, com os tênis plenos de barro, a calça jeans empoeirada de pedra, pedalando numa bike, indignando-se com o desmatamento em Peruíbe, os desvios de conduta e a cuca aberta para apreender a natureza, Santos, o feminino, o mar, os peixes, numa necessidade visceral de continuar... ?

É para estar próxima dessa essência, desse coração selvagem do artista que não se ensoberbece diante da ribalta e continua o processo inclassificável de sua arte que, em 2014,  apontei a minha câmera para Elver Savietto, gravando alguns takes de seu trabalho e uma entrevista. A convite do 13º Curta Santos, criei o minidocumentário “Sem Título Técnica Mista”, sobre esse universo de resiliência. Com o tempo, fui re-editando-o, dando corpo ao trabalho, alimentando o desejo de finalizá-lo com uma campanha de crowdfunding diferente, que pudesse reunir aqueles que já conhecem seu trabalho – ex-alunos, amigos, familiares, admiradores – àqueles que precisam descobrir no hoje meu amigo e mestre a paixão que por vezes lhes falta, a beleza que por vezes lhes escapa, a reflexão por vezes desfeita.

Então, BORALÁ! Nos ajuda a terminar esse filme? A exibir esse talento por telas de cinema, festivais e afins? A preservar na memória o artista atuante, homenageando sua resiliência enquanto vivo, antes que o transformem em nome de sala/praça? Para isso, nada de camiseta e ingresso e só nome nos agradecimentos: VAMOS OFERTAR ARTE PRA FAZER ARTE! Da contribuição + simples à + elaborada, TODO MUNDO GANHA UMA ARTE. Afinal, não dá pra falar de generosidade sem praticá-la, não é meixxxmo?! =)

Aqui, acaba o texto-promo da lodjinha! E se nenhuma dessas razões for suficiente, pense que alguém, em algum cantão desse mundo, precisa conhecer um artista despojado de vaidade e preenchido pelo amor ao seu ofício para ser sacudido do torpor e do desânimo, ou da raiva e da agressividade, gerados pelas inúmeras dificuldades dessa vida para enfim conhecer a Amorosa onda de sentidos da palavra “Resiliência”.


ACESSE "SEM TÍTULO TÉCNICA MISTA (ELVER SAVIETTO)" E VENHA FAZER ESSE FILME CONOSCO!

Nenhum comentário: