"Pequena história destinada a explicar como é precária a estabilidade dentro da qual acreditamos existir, ou seja, que as leis poderiam ceder terreno às exceções, acasos ou improbabilidades, e aí é que eu quero ver" (Julio Cortázar)


A Produtora Signos Possíveis começou neste blog de escrita. Aqui você encontrará uma seleção de textos escritos e escolhidos por Madeleine Alves. Para saber mais sobre o trabalho da produtora, procure a gente nas redes sociais!


Curtas y Cositas

Dripped (2009)

(Clique na frase para assistir ao curta)

Gênero Animação
Diretor Léo Verrier
Ano 2009
Duração 8 min
Cor Colorido
País França

Hey, você!

Sim, você mesmo, deste lado daí, lendo-me por meio deste blog. Há alguma coisa, alguma
empolgação, algum sonho que lhe embriague, lhe embale e lhe faça ser de tal modo completo que você não se imagina sem isso? Bom, geralmente quem trabalha com arte sabe do que falo, mas muitos outros em muitas outras áreas também são tomados por esta paixão.

O personagem da animação Dripped, do realizador francês Léo Verrier, parece ser um homem tomado por esta paixão. Curiosamente, durante a criação da narrativa desta animação, Léo também sentiu-se tomado por um sentimento arrebatador.

— Bom, tive esta estranha ideia quando visitei uma pinacoteca, por volta da 1 da tarde. Eu estava super faminto e, vendo todas aquelas pinturas coloridas, pensei: E se eu tivesse o poder de comer obras-primas e sentir o seu “sabor artístico”? Bem, eu gostei dessa ideia e comecei a escrever a história de um homem que podia fazer isso.

            Bem antropofágico.

         E foi assim que, após um tempo, munido já de cenário, story-board e alguns exemplos de quadros que seriam utilizados durante a narrativa, Léo Verrier submeteu o projeto à Fondation Lagardère. E exultou, semana depois, em saber que este fora selecionado para ganhar uma verba e começar a trabalhar no projeto.

— Então, propus à Chez Eddy, a agência de produção parisiense com a qual estou acostumado a trabalhar, se eles queriam juntar-se a mim neste projeto. Desse modo, selecionamos um talentoso time de animadores para começarmos a trabalhar e, 8 meses depois, Dripped estava pronto.

            Dripped conta a história de um homem que vai a museus e interage com as pinturas: ele as come e nelas ele se transfigura. Uma homenagem ao pintor expressionista abstrato norte-americano Jackson Pollock, que, influenciado por Max Ernst, desenvolveu a técnica do “gotejamento” (dripping), que consistia em respingar tintas em suas imensas telas — posicionadas fora dos cavaletes, dispostas no chão, para o pintor pudesse se sentir dentro delas. As gotas escorriam e entrelaçavam-se, formando traços e tramas harmoniosos na superfície da tela.

            Incrivelmente, o acaso encarregou-se de unir o francês Léo e o norte-americano Pollock.

— Foi uma coincidência! — conta Léo Verrier. — Eu procurava por um final para Dripped. “Este personagem come pinturas, então, talvez, quando as pinturas se tornassem raras e todos os museus estivessem fechados, ele se tornaria um faminto solitário em sua casa, uma espécie de viciado... E se essa fome, esse ódio e essa solidão fossem o início de seu processo criativo? E se este homem virasse um grande pintor?”

— Gostei da ideia, e comecei a pensar em qual pintor seria o seu equivalente — e imediatamente pensei em Jackson Pollock. Amo o expressionismo e a vida que conseguimos depreender de suas pinturas — podemos realmente enxergar o pintor por trás dos quadros, respingando tintas nele. Então, comecei a pesquisar sobre Pollock e percebi o quanto ele era inspirado pelo Xamanismo — tudo a ver com o meu personagem que come quadros tal qual uma comida mística, introduzindo-se, desse modo, ao mundo da obra-prima.

            Ainda segundo Verrier, muito mais simples do que a história de Pollock, Dripped trata acerca de como os processos artísticos nascem e como nossa imaginação é alimentada por outros...

            Clicando na citação, você saboreia os quadros animados de Dripped. Tenha uma ótima refeição!

OBS.: Agradeço ao grande amigo e parceiro Fabio Machado, pela sugestão da ótima animação.
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Alice
(2005)

(Clique na frase para assistir ao curta)

Gênero Ficção
Diretor Rafael Gomes
Ano 2005
Duração 15 min
Cor Colorido
Bitola 35mm
País Brasil
Local de Produção: SP

Era ela a chegar, após um ano em Londres, por ocasião da morte do pai, a procurar por ele, que sempre a procurou. Eram Alice e Alex, a procurar-se por meio de um meio de comunicação: o telefone. Nunca atendido. Recorreu-se, então, à secretária eletrônica, como uma extensão do meio — que se figurou como eficaz apenas no após: após a gravação da mensagem. O lugar é São Paulo. Não um lugar, uma persona, a erguer seus arranha-céus e vias expressas por entre os caminhos conhecidos por Alex e Alice. Estes, à angústia de perderem-se nos caminhos da persona São Paulo, respondem ainda se buscando e dialogando por mensagens solicitamente gravadas na secretária eletrônica, agora único ponto de referência aos amantes.

A geografia desconcertante de Alice, curta-metragem de Rafael Gomes, deixa-nos em suspenso, procurando um norte no conflito dos personagens belamente representados por Simone Spoladore (Alice) e Fernando Alves Pinto (Alex).

Especificamente, ‘Alice’ foi meu projeto de conclusão de curso na Faculdade de Cinema, em 2004. Quando escolhi apresentá-lo dentro do âmbito da instituição de ensino, portanto, o fiz porque se tratava de uma história e de um filme com determinados sentimentos que, naquele momento, eu queria compartilhar. — conta-nos Rafael, que cita como referências para este trabalho, a filmografia do cineasta chinês Wong Kar-Wai e o longa-metragem “Que Horas São Aí?”, do cineasta malásio Tsai Ming Liang.

A tessitura de Alice pode ser definida pela tensão delicada de sua câmera e pela sensibilidade de sua montagem. Elas definem, juntamente com a trilha sonora, o balé no qual Alice e Alex seguem descontinuamente a procurar-se por São Paulo.

— São Paulo é um personagem do filme, talvez até a protagonista. A busca de uma geografia sentimental, o desalento em estar constantemente buscando um lugar no mundo, a dispersão do ser em um espaço urbano tão imenso, que parece desterritorializar a subjetividade... Tudo isso são coisas que eu procurei colocar/ retratar no filme e que só existem pelo fato de eu morar em São Paulo e ter essa vivência contínua da metrópole. — relata Rafael.

São elementos que fazem de Alice um curta que nos toca no ponto nevrálgico de nossos medos e de nossas lembranças de perda. Por vezes, o espaço de nossas vidas é o palco onde seguimos buscando um porto seguro, sem adeus e sem solidão.

Carreira em Festivais
Encontro de Cinema da América Latina de Toulouse 2006
Festival de Cinema de Huesca 2006
Festival do Rio 2005
Festival Latino Americano de Trieste 2005
Goiânia Mostra Curtas 2005
Mostra de Cinema de Tiradentes 2006
Mostra do Filme Livre 2006
Cine Ceará 2006
Curta Santos 2005
FAM - Florianópolis Audiovisual Mercosul 2006
Festival de Cinema de Campo Grande 2006
Festival de Cinema de Ribeirão Preto 2006
Festival de Cinema Feminino da Chapada dos Guimarães 2005
Festival de Cinema Latino Americano de Utrecht 2006
Festival Internacional de Cinema de Miami 2006
Festival Internacional de Cinema de Monterrey 2006
Festival Internacional de Curtas-Metragens de Trevignano 2006
Festival Internacional de Filmes de Baixo Orçamento 2006
Mostra do Audiovisual Paulista 2005
Mostra Londrina de Cinema 2005
Mostra Piauí de Cinema 2005

Prêmios
Prêmio de Contribuição Técnica no Festival Internacional de Cinema Universitário - Rio de Janeiro 2006
Prêmio Porta Curtas no Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2005
Melhor Fotografia no Festival Santa Maria Vídeo e Cinema 2006


Artigo originalmente publicado no Blog do Curta Santos - Festival Santista de Curtas-Metragens (2011) e no Blog de Viagens Quem Tem Boca

Um comentário:

RMBS Rock disse...

Madeleine parabéns pelo blog. Tamos juntos...