"Pequena história destinada a explicar como é precária a estabilidade dentro da qual acreditamos existir, ou seja, que as leis poderiam ceder terreno às exceções, acasos ou improbabilidades, e aí é que eu quero ver" (Julio Cortázar)


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terça-feira, 22 de abril de 2008

O deus que compete com Deus

Madeleine Alves
No início era o Verbo a explicar. Agora corre em nossas veias... impregnado em nosso DNA... viciado em nossas retinas...

A comoção do templo que se apaga de forma gradual. Aqui, a reza não se encontra no mar de velas. É a própria entidade que se deixa resplandecer e iluminar.

A coisa toda é democrática: negro ou branco, ateu ou crente, homem ou mulher, jovem ou velho. Só não espere que o culto lhe agrade sempre...

O que esperar de um ente que lhe deixa com raiva, com medo, em choque, em prantos, depressivo, eufórico, receoso, impassível, indignado, apalermado, esperançoso? E ele ainda reparte suas partes com você – é isso: você se identifica vai lá prisioneiro por vontade servir ao vencedor por quanto tempo ele quiser...

E nem adianta mais dizer que não gosta do culto por causa do templo: ele ainda caminha até sua casa, a curto, médio ou longo prazo. E lá, mesmo lá, no aconchego do seu lar, as teias do teu inconsciente (segundo Breton, deus do ente) lhe fará transformar tudo ao redor em templo escuro.

É, meu caro: não há quem já não tenha confessado seus pecados assim. E enquanto as gerações passam pelo tapete do tempo, mais os raios luminosos do ente se entranham voluntariamente em nossa carne, porque somos no ente, estamos no ente, nele quando doentes encontramos por vezes respostas em cápsulas... ou não... Isso é catarse, Ari...?

Se eu me abandono nos braços do ente? Claro que sim nem mais tento fugir do ódio ou do amor que lhe devoto...

E, na boa, por que o faria?

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