de Rodrigo Azevedo
Estranho este mundo em que vivemos. Minhas amigas reclamam sempre que são incompreedidas, que os homens não entendem elas. Tenho vários contatos femininos, e percebo claramente o que acontece: excesso de alto-estima, excesso de baixa-estima e uma forte variância entre os tempos dessa música.
Ontem mesmo uma dessas amigas ligou para mim. Falou que o namorado novo dela era um cretino insensível, mulherengo, cafajeste, estúpido ao extremo e que só queria saber de sair com os amigos. Conheci o ponto de vista dela. Mas logo percebi o modus-operandi do rapaz. Perguntei, secamente, o que ela viu nele para estarem juntos. Ué, se o cara é um cafajeste, mulherengo, estúpido ao extremo e que deve arrotar e dar risada do barulho, o que uma mulher com o ela viu nele?
– Ele é bonitinho! Mas é um grosso e desalmado, disse.
Às vezes canso de repetir que os encaixes ovais da vida invariavelmente não se ajustam aos quadrados do romantismo. Percebo que a busca incansável por um par perfeito torna-se cada dia mais desgastante e desmotivadora. Aquele sujeito de chapéu panamá, que gentilmente retira seu terno risca-de-giz e o posiciona sobre a água para que sua donzela não suje os pés, que tem sempre uma caixa de godiva e uma rosa vermelha sempre pronta para presentar está quase extinto. Digo quase extinto porque ainda deve existir alguém assim. Alguém que ainda escreva poesias para a amada, que passeie de mãos dadas, que sabe que uma rosa é um presente de grande significado.
Essa minha amiga não sabe, mas ela é feliz com o grosso, insensível, cafajeste e mulherengo. É claro que ele precisaria mudar algumas coisas. Mas um "ameaçado de extinção" nas mãos dela sentiria-se usado e ficaria magoado. Não seria apto para a reprodução, seriam mais duas araras azuis que não se reproduzem em cativeiro.
A vida é assim. Seu par perfeito não precisa ser o poeta romântico, melodramático e culto. O não tão inteligente, cafajeste, mulherengo e sacana às vezes cai muito bem com sua personalidade. E os altos e baixos desta relação conturbada e magnifica continuam, ao passo marcado da valsa de quinze anos.
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