"Pequena história destinada a explicar como é precária a estabilidade dentro da qual acreditamos existir, ou seja, que as leis poderiam ceder terreno às exceções, acasos ou improbabilidades, e aí é que eu quero ver" (Julio Cortázar)


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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

FULMINADOS PELA TORRE: O legado de desafios profundos de 2016

Madeleine Alves

"Por mais bem comportados que sejamos, por mais que façamos tudo direito, não adianta: é impossível passar pela vida sem enfrentar problemas. Muitas pessoas se iludem, estabelecendo uma espécie de “comércio espiritual” com o Universo, achando que se forem boazinhas só ocorrerão coisas boas em suas vidas. Ledo engano. A entropia (força desintegradora da natureza) se manifesta mais cedo ou mais tarde. Forças externas pressionam demais e a estrutura desaba. O melhor é deixar que tudo desabe mesmo. Quando as coisas chegam a um nível tal de desequilíbrio, não adianta ficar tentando colar os pedacinhos. É melhor deixar que o velho organismo morra, para que a energia possa se manifestar em algo inteiramente renovado."
(Site Personare)



Créditos: www.facebook.com/ChapolinSincero

Que atire a primeira pedra aquele que não pensou/falou essa frase (ou algo semelhante) no ano de 2016. Estamos num sol de quase novembro e o que mais vimos esse ano foram rupturas de todas as ordens: financeiras, profissionais, fraternais, amorosas. Há quem aposte as fichas para se restará pedra-sobre-pedra até 31 de dezembro de 2016.

No Tarot, uma das cartas que rege o ano é "A Torre Fulminada" (também conhecida como "A Casa de Deus"). É a carta de número 16, sendo que este está presente nos últimos algarismos do ano. E ainda que tudo isso seja parte de um movimento de transformação muito maior, o arquétipo de A Torre nos ajuda a entender o modus operandi do que está acontecendo.

Antes de mais nada, preciso deixar claro ao leitor que não sou taróloga, mas estudo os seus arquétipos como um exercício estruturalista. Cada carta representa um arquétipo*, e o jogo foi alvo de estudo de Jung e, nós, escritores, conseguimos entender "A Jornada do Herói" analisando os aspectos de cada arquétipo. Explicações técnicas dadas, vamos à carta.

"O céu está coberto de esferas coloridas; dois homens caem de uma torre fulminada por um raio (o topo da torre lembra uma coroa real). A torre – localizada num terreno montanhoso, do qual brotam seis plantas verdes – tem três janelas azuis; a maior delas parece estar num andar mais alto que as outras. Não aparece a porta de entrada, na edição Grimaud.
Um raio com várias cores, linhas exuberantes, decapita o edifício, que é arrematado por quatro ameias. Sobre o fundo incolor do céu podemos contar 4 esferas na parte superior, 14 esferas à esquerda, 19 esferas à direita.
Um dos homens está caindo na frente da torre; do outro, mais atrás, vê-se apenas a parte superior do corpo. Os dois estão de perfil. No Tarô clássico, não aparecem tijolos ou pedras caindo sobre os homens, como se colocassem suas vidas em risco."


"De modo geral, a representação da Casa de Deus mostra a punição pelo orgulho ou pela presunção, o castigo pela procura do conhecimento proibido ou pela transgressão das normais morais. Seguindo esta linha de representação, a torre é composta por blocos cor de carne, pois assim se reforça a associação entre a construção e o corpo humano"

Como podemos depreender das descrições acima, o arquétipo d'A Torre representa a destruição repentina, a ruptura abrupta de tudo aquilo que está gasto, velho, ultrapassado. Tudo o que é mantido apenas pelas aparências mas que, no mais íntimo de nós, não faz mais sentido. Ou tudo aquilo que foi corrompido pelos anos e/ou pelas atitudes, que foi obtido sem inteireza de caráter... Enfim, tudo o que está capenga, cai.

Esse arquétipo está presente na história de muitas culturas. Na hindu, por exemplo, ele é representado pelo Deus Shiva, que com sua dança destrói para, depois, reconstruir.

Contudo, por mais catastrófico que possa parecer, este é conhecido como o Arcano Maior da Libertação e da Construção (!!!). As pessoas que caem na imagem são prisioneiras daquela torre sem portas (e em algumas versões, até sem janelas), e de que outra forma se libertariam senão pela queda? A partir da desintegração é possível resetar, recomeçar livremente a caminhar no sentido da próxima carta, que é uma carta de restauração da Fé e da Esperança: A Estrela!



Claro que isso é um processo muito profundo e desafiador. Afinal, fomos criados em um mundo onde precisamos manter o status quo. Toda mudança profunda é traumática; mas, se quisermos seguir adiante, se quisermos mudar o que não está bom, temos que fazer o esforço contínuo de nos entregar ao processo de transformação sem medo.

Falando em medo, não à toa têm surgido as mais diversas reações convulsionadas a esse processo de mudança. Nada mais será como antes. Lembra da canção? O novo sempre vem. Então, quanto mais ficarmos presos às velhas estruturas, ao jeito-como-tudo-era-e-não-é-mais, mais sofreremos - porque o novo virá e arrastará para longe tudo o que não serve mais. Podia ser até bom antes, mas se não está bom agora, se não resolve mesmo o problema, se é apenas um paliativo, esqueça e dê adeus, porque vai em boa hora (origem da palavra "embora") - quer você queira, quer você não queira. Afinal, a soma dos algarismos 2+0+1+6 nos leva ao número 9, que representa o fechamento de um ciclo.

Encontrar novas respostas para velhos problemas deve ser a motivação de todos nós. Se perceberem, estamos em uma transformação de paradigmas tão forte neste início de século XXI quanto as transformações ofertadas no início do século XX. Não temos as guerras mundiais, mas a batalha que travamos dentro de nós mesmos - talvez a mais corajosa e difícil de todas - seja a que realmente vá fazer a diferença. Tanto de um modo geral, com a transmutação do pensamento coletivo, quanto de um modo particular. Quem sabe assim não sejamos verdadeiramente felizes?

Mister é ter Fé! 

*Arquétipo: (s.m.) 1. modelo ou padrão passível de ser reproduzido em simulacros ou objetos semelhantes.
2. p.ext. qualquer modelo, tipo, paradigma.
  
"XVI A Casa de Deus". In: NOVA CULTURAL (org.). Tarô: As cartas do destino. São Paulo: Nova Cultural, 1985, págs. 46-47. 

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