"Pequena história destinada a explicar como é precária a estabilidade dentro da qual acreditamos existir, ou seja, que as leis poderiam ceder terreno às exceções, acasos ou improbabilidades, e aí é que eu quero ver" (Julio Cortázar)


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sábado, 22 de junho de 2013

Sobre física e antônimos

Madeleine Alves

Leis são leis, física é física. É justamente uma lei física aquela que afirma não ser possível que dois corpos ocupem exatamente o mesmo espaço. Podem estar próximos ou um em cima do outro. Mas, ainda assim, cada um com o seu espaço.

Dessa forma, para que um corpo ocupe o mesmo espaço já ocupado por outro, é preciso haver deslocamento. Um corpo sai e ocupa outro espaço. Outro corpo vem e ocupa aquele espaço. Um processo que implica em mudança.

Pensei nessas coisas quando li uma história sobre um fazendeiro que encontra um cachorro latindo e uivando na parte de trás de uma loja rural. "O que se passa com aquele cachorro?" "Ele está sentado sobre uma planta que o incomoda." "Bem, e por que ele não sai de cima da planta?" O dono da loja respondeu: "Porque ele gasta menos energia uivando e latindo do que para se levantar de onde está."

Mudar exige energia e disposição. Contudo, tenho pena do cão que parece insistir em permanecer em incômoda planta, ao invés de esticar as patinhas para além, tomar um sol na barriga, curar as incômodas feridas causadas pelos retardantes espinhos, cheios de dor e negatividade. Será que energia e disposição não gerariam mais sorrisos e felicidades?

No fim, é uma escolha entre o velho e o novo. O velho, com sua poeira, mas conhecido. Sabe-se exatamente o que esperar do que já se conhece. Não causa sobressalto, mas não causa frio na barriga. O novo e sua fresca lufada de ar. Varre a poeira, espana o marasmo, lava a roupa suja, estabelece nova ordem para as coisas... Que ordem será essa? Será boa? Será má? Virará velho um dia?

Enfim, escolhas. O certo é que física é física e antônimos são antônimos. Velho e novo não ocuparão o mesmo espaço físico.

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